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Anápolis, GO, Brazil
Pretendo ainda ser filósofo. Quero um dia ser poeta. Por agora, no entanto, me contento em compartilhar como as nuances da existência afetam meus sentidos. Elas não me definem por inteiro, mas contribuem imensamente.

quarta-feira, agosto 25, 2010

Entre fadas e sereias.

Andei tanto e por tão longo caminho
Por gastas e longas estradas
Até que minhas pernas cansadas
Tornaram-se asas de passarinho

Passei por tantas terras coloridas
Por estranhos e lindos lugares
Era tanta gente e tantos olhares
Gente com almas tristes, mas floridas

Reis e rainhas desesperadas,
Senhores de castelos e baluartes
Mendigos e seus estandartes
Só ocupados com dar risadas

Viajei tendo por rumo o desconhecido
Procurando o que os homens dizem ser fé
Mas não encontrei a quem chamam Javé
Foi apenas lenda e culto desmerecido

Cansado de contar brilho de estrelas
Durante as andanças nas noites sem lua
Flertando com uma vida simples e crua
Encontrei mágicas e aladas donzelas

Seus olhos vibrantes e dourados
Tão cheios de segredos e ternura
Fizeram minha noite menos escura
E meus sonhos mais encantados

Levaram-me a um céu de fantasias
Por entre um rasgo na noite triste
Para um delírio que só lá persiste
Lindas fadas e suas feitiçarias

De tanto chorar e dar risada
Abandonado ao sabor do vento
Perdido num louco pensamento
Eu duvidei e morreu uma fada

Suas asas transparentes caíram
Como gotas de chuva no verão
E caí na azulada imensidão
Onde outras donzelas surgiram

Embalado em correntes marítimas
Flutuei com peixes na maré cheia
E nadei com a mais divina sereia
Fui somente mais uma das vítimas

Naquelas águas de profunda vastidão
Entre navios fantasmas, piratas e ouro
Ganhei do oceano tão vasto tesouro
Que o sonho desfez-se num clarão

De volta ao mundo e a esta guerra
Sem fadas feiticeiras que me encantem
Ou sereias brincalhonas que me cantem
A vida não sonha, mas se encerra.

Há nove anos.

Há nove anos este homem perdeu sua fé.
Abandonou, renunciou tudo que ela é.
Ele deixou de crer na existência de um deus
E correu, fugiu para muito longe dos céus.
Ele decidiu viver sem planos, sem ter norte
E apenas esperar pela própria morte.

Há nove anos deixou de ser um romântico.
Como vítima de um acidente náutico,
Entregue à dureza do tempo em idade,
Perdeu a pureza de sua simplicidade.
Ele ficou menos forte e menos sincero
E tornou-se alguém frio e muito severo.

Há nove anos o homem não escreve mais.
De sua riqueza não sobraram nem sinais.
Ele esqueceu como as palavras eram alegres
E elas se perderam em seus afazeres.
Sem os sons e a poesia de todas elas
O homem sofreu muitas e grandes mazelas.

Hoje este homem é uma pessoa melhor.
As suas lembranças tornaram-se algo maior.
Ele não voltou a ser um grande romântico
Porém seu amor ressurgiu mais autêntico.
E não voltou a escrever, tampouco a ter fé.
Mas ele encontra sentido em tudo que vê.

Hoje este homem entende o que sempre foi.
Um atormentado por uma dor que não dói.
Seu coração ainda é um mar profundo,
Sedento por toda a poesia do mundo.
Este homem é aquele mesmo do passado.
O mesmo menino, homem, velho, assombrado.

terça-feira, agosto 24, 2010

Aquela cor.

   Fim de tarde, fim de inverno e um encontro como anúncio de primavera. Um por do sol dourado naquele dia, fios de cabelo dourados, avermelhados, ruivos. Confissões engraçadas, olhares, risadas. O luar testemunhou a espera, o silêncio e um beijo. Brilho fugaz, sorriso breve, em seus olhos castanhos, em seus lábios rosados. Um rápido momento e o desatino. Tão pouco tempo para as correções do destino e para aquela cor que é pura magia, pura poesia.

segunda-feira, agosto 16, 2010

Nova velha apreciação.

   Há alguns dias estive num concerto bastante eclético onde uma orquestra sinfônica presenteou o público com uma apresentação de obras eruditas de grandes compositores e versões inovadoras de obras populares. Após a apresentação tentei postar minha satisfação de ter apreciado uma orquestra de câmara, como há muito não fazia, mas me faltaram palavras. Agora, já de volta à rotina e tendo a música mais distante na memória, escrevo para lembrar meu deleite na tentativa de reencontrar aquela emoção.
   Ouvi de um homem bastante sábio, certa vez, "A música é como a paixão: ela nos invade e nos toma por completo.". São palavras com as quais concordo plenamente. O "zumbido" dos violinos, o "tilintar" dos pratos, a "tensão" do piano são sons de uma poesia magnífica. Não há como não se emocionar com a música clássica. E mesmo quem diz não gostar entrega-se à magia do ritmo, intensidade das notas, quando decide ouvir uma sinfonia.
   Quando ouvi uma orquestra sinfônica, ao vivo, pela primeira vez eu chorei, confesso. Costumo emocionar-me com facilidade, é verdade, mas isso porque permito que os sentidos penetrem em minha alma a fim de apreciar ao extremo as experiências que tenho. Há quem julgue um exagero, porém, eu fico feliz em saber que nem todos sentem de forma tão intensa a poesia de uma música rica em arranjos, ritmo e beleza. Surge em meu ser certo contentamento em saber que me diferencio dos demais quanto às emoções. Viver intensamente é fazer essa entrega, creio.
   Devo acrescentar também que não apenas a música clássica possui poesia. A poesia é o sentimento que a arte desperta em nós quando a apreciamos. Talvez, e reforço, apenas talvez, uma obra de arte possua valor artístico e seja considerada de fato arte quando ela é capaz de nos emocionar de algum modo em algum grau. Não consigo descrever como gostaria o que senti, e sinto, quando ouço uma orquestra de câmara. De qualquer modo não posso levar alguém a sentir o mesmo. Mas sugiro que os mais resistentes aos clássicos esqueçam o rebolation por algum tempo, deixem de lado o sertanejo universitário, e escutem Mozart, Beethoven uma vez ao menos, de olhos fechados. Premitam-se uma experiência nova. E após terem feito isso, tendo gostado ou não, tendo sentido a poesia dos clássicos ou não, tentem emocionar-se mais com toda sua vida; com cada dia de sol; com cada alegria que tiverem. Com quase esforço nenhum perceberão que a poesia é uma só e ela não é muito diferente do amor, da paixão. E talvez, e reforço, apenas talvez seja a poesia a nossa própria existência.