Andei tanto e por tão longo caminho
Por gastas e longas estradas
Até que minhas pernas cansadas
Tornaram-se asas de passarinho
Passei por tantas terras coloridas
Por estranhos e lindos lugares
Era tanta gente e tantos olhares
Gente com almas tristes, mas floridas
Reis e rainhas desesperadas,
Senhores de castelos e baluartes
Mendigos e seus estandartes
Só ocupados com dar risadas
Viajei tendo por rumo o desconhecido
Procurando o que os homens dizem ser fé
Mas não encontrei a quem chamam Javé
Foi apenas lenda e culto desmerecido
Cansado de contar brilho de estrelas
Durante as andanças nas noites sem lua
Flertando com uma vida simples e crua
Encontrei mágicas e aladas donzelas
Seus olhos vibrantes e dourados
Tão cheios de segredos e ternura
Fizeram minha noite menos escura
E meus sonhos mais encantados
Levaram-me a um céu de fantasias
Por entre um rasgo na noite triste
Para um delírio que só lá persiste
Lindas fadas e suas feitiçarias
De tanto chorar e dar risada
Abandonado ao sabor do vento
Perdido num louco pensamento
Eu duvidei e morreu uma fada
Suas asas transparentes caíram
Como gotas de chuva no verão
E caí na azulada imensidão
Onde outras donzelas surgiram
Embalado em correntes marítimas
Flutuei com peixes na maré cheia
E nadei com a mais divina sereia
Fui somente mais uma das vítimas
Naquelas águas de profunda vastidão
Entre navios fantasmas, piratas e ouro
Ganhei do oceano tão vasto tesouro
Que o sonho desfez-se num clarão
De volta ao mundo e a esta guerra
Sem fadas feiticeiras que me encantem
Ou sereias brincalhonas que me cantem
A vida não sonha, mas se encerra.